De um informe do Conselho Nacional de Cineclubes: 90% das salas de cinema no Brasil são ocupados por "blockbusters" norte-americanos. Sobra 10% do espaço para os filmes brasileiros. 9% dele é ocupado pelos filmes da Globo. 1% é o que resta para os filmes independentes. Estes estreiam e são retirados de cartaz com uma semana de exibição.
Mas os filmes mais autênticos e autorais não encontram seus públicos nessas salas. O público dos shoppings, onde 99,9% delas estão situadas, tem um gosto específico formado por um certo tipo de filmes. De 83 filmes brasileiros lançados em 2012, só cinco fizeram 1 milhão ou mais de espectadores. 80% dos lançamentos não alcançaram 99 mil pessoas. Dois terços não chegaram a 10 mil espectadores em todo este país de 200 milhões de habitantes.
Na TV, a exibição do filme brasileiro é mínima. A TV Brasil, que é campeã da exibição de filmes brasileiros, tem audiência de 0,1% e a Rede Globo, vice-campeã, só exibe filmes da Globofilmes. As demais redes de TV não exibem ou exibem apenas um filme brasileiro por ano.
"Se temos a possibilidade de fazer uma corrente, um movimento real e forte para mudar esse paradigma, oferecendo um circuito alternativo (durante apenas 2 horas por semana), por que não?" O cineclube da Casa de Cultura Cássia Afonso de Almeida, em Mateus Leme, o Instituto Humberto Mauro e o Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em parceria com a Imprensa Oficial de Minas Gerais, fazem parte dessa corrente.
Eis a programação de julho do cineclube da Casa: sábado, dia 6, às 17 horas, serão exibidos o curta "Macacos me Mordam", de Sávio Leite e César Maurício, e o longa "Terra Estrangeira", de Walter Salles e Daniela Thomas. O primeiro, baseado num conto de Fernando Sabino, é um filme de animação: macacos perturbam os habitantes de uma cidade. O segundo, de 1995, foca um jovem que, desesperançado com o Brasil da era Color, imigra para a Europa, levando uma "encomenda" suspeita. O elenco tem Fernanda Torres, Fernando Alves Pinto, Luís Melo, Beth Coelho e Tcheky Karyo.
No dia 13, sábado, às 17 horas, a propósito da comemoração do Dia Internacional do Rock, o cineclube exibe "Botinada - A Origem do Punk no Brasil", de Gastão Moreira. Composto de depoimentos e material de arquivo, alguns raros e inéditos, o documentário aborda a chegada do punk rock ao Brasil e como os punks brasileiros encararam a ditadura militar e lhe ofereceram resistência, através de sua ideologia, irreverência e música. O filme apresenta a versão dos que vivenciaram essa história de corpo, alma e jaqueta de couro. O curta é "Fantasmas", de André Novais: dois amigos aguardam numa esquina que reapareça a antiga namorada de um deles.
No dia 20, sábado, às 17 horas, "São Bernardo", de Leon Hirszman, com Othon Bastos, Isabel Ribeiro, Mário Lago, Jofre Soares e outros. Trilha sonora de Caetano Veloso. Baseado na obra de Graciliano Ramos. Filme de 1972, ficou retido pela censura da ditadura militar durante um ano e isso levou a produtora de Hirszman à falência. O diretor negou-se a atenuar o discurso político e social de seu filme, que trata da trajetória de um homem que não mede sacrifícios para ascender de mascate a fazendeiro no Nordeste brasileiro. O curta, "Nelson em Ouro Preto", de Fábio Carvalho, surpreende o cineasta Nelson Pereira dos Santos em uma visita a Ouro Preto.
Dia 27, sábado, às 17 horas, serão exibidos "O Aleijadinho" e "O Padre e a Moça", ambos de Joaquim Pedro de Andrade. O primeiro é um documentário sobre a obra de Antônio Francisco Lisboa em Congonhas e Ouro Preto, narrado por Ferreira Gullar. O segundo, de 1966, se baseia num poema de Carlos Drummond de Andrade e é uma das obras mais representativas do Cinema Novo. Aborda o amor proibido entre um jovem padre e a única moça de um vilarejo perdido no tempo. Com Helena Ignez, Paulo José e Mário Lago. Filmado em Minas, do filme participaram os mineiros Carlos Alberto Prates Correia, Flávio Werneck e Geraldo Veloso.
Em todos os domingos do mês, também às 17 horas, o cineclube da Casa realiza o projeto Cinepreciosidades, com curadoria do escritor e cinéfilo Matheus Matheus, constituído da apresentação de filmes raros, entre primitivos, undergrounds ou contemporâneos, garimpados em coleções particulares, na internet e outras fontes.
Na Sala Multimídia da Imprensa Oficial, na avenida Augusto de Lima, 270, Centro, em Belo Horizonte, prossegue o projeto Curta Degustação, com curadoria de Lourenço Veloso, constituído da exibição de filmes de curta-metragem, todas as terças-feiras, às 13 horas.
No cineclube da Casa, os filmes são apresentados com projeção e som digital em tela de 75 polegadas. A sala tem 23 lugares. Os ingressos são distribuídos com 30 minutos de antecedência.
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