quarta-feira, 2 de outubro de 2013

NO CENTENÁRIO DO CINECLUBISMO, A RESISTÊNCIA DE UM CINECLUBE EM MATEUS LEME.

Em 1911, o jornal "Los Angeles Citizen" noticiou a criação, por cidadãos socialistas e feministas, de uma sala de cinema em reação ao que a incipiente produção cinematográfica norte-americana oferecia ao público. Mas o primeiro cineclube organizado como tal data de 1913, quando militantes e simpatizantes anarquistas criaram, em Paris, o Cinema du People, com a finalidade de "divertir, instruir, emancipar".

O cineclubismo está fazendo cem anos como movimento ou organização do público, ainda hoje considerado como massa - um conceito abstrato que o vê apenas como receptor ou consumidor passivo de filmes. No entanto, "o público somos nós" e, como público, temos também direitos, como políticas públicas em que não sejamos apenas objeto, mas também agentes fundamentais na construção do diálogo com o filme e seus autores. 

O cineclube da Casa de Cultura Cássia Afonso de Almeida apresenta a sua programação de agosto, que começa com a exibição, no dia 3, sábado, às 17 horas, de um curta e um longa, "Aeroporto" (2010) e "Pacific" (2009), do cineasta pernambucano Marcelo Pedroso. O diretor tem um modo particular de trabalhar que esses dois filmes ilustram bem: ele recolheu os filmes amadorísticos feitos por turistas (no primeiro, estrangeiros em outros países; no segundo, brasileiros que participam de um cruzeiro marítimo) e os montou utilizando uma linguagem moderna e experimental. 

No dia 10, sábado, às 17 horas, serão exibidos o curta "A Musa do Cangaço" (1981), de José Umberto, e o longa "Corisco & Dadá" (1996), de Rosemberg Cariry. O primeiro é um documentário centrado no depoimento de Dadá, que foi mulher de Corisco, subtenente do bando de Lampião. O segundo é uma ficção baseada no caso de amor dos dois: Dadá foi raptada por Corisco quando tinha 12 anos de idade e na vida dura do cangaço o seu ódio se transformou em amor, humanizando o outro. Com Chico Diaz e Dira Paes. 

No dia 17, sábado, às 17 horas, o programa é um curta, "Uma Homenagem a Aluízio Netto" (2004), de André Novais, e o longa "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha. O curta é uma ficção sobre um grupo de jovens que nos anos 1920, em Cataguazes, se compraziam em trocar as cartelas originais dos filmes exibidos no cinema por outras de conteúdo revolucionário. O longa é uma alegoria sobre o Brasil e a América Latina, representados num país imaginário, Eldorado, dividido entre diversas forças políticas que disputam o poder; em meio a elas, um jornalista e poeta hesita entre apoiar uma ou outra, optando pelo político populista. Com Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy e Glauce Rocha. 

No dia 24, sábado, às 17 horas, o cineclube apresenta o Festival Melhores do Minuto de 2012, constituído dos filmes brasileiros e estrangeiros de um minuto ou menos selecionados pelo Festival do Minuto do ano passado. Criado em 2001, o Festival se realiza anualmente, elegendo um tema para ser tratado em até um minuto pelo realizador. O desafio é se ele não o fizer em um minuto, não conseguirá fazê-lo em dez. Em 2012, o tema foi livre.

No dia 31, sábado, às 17 horas, serão exibidos o curta "Não Há Cadeiras" (2011), de Pedro Di Lorenzo, e o longa "A Lira do Delírio" (1978), de Walter Lima Júnior. O curta se passa num universo pós-apocalíptico no qual um homem busca o que acredita ser o seu Santo Graal: uma cadeira de rodas. O longa, com Anecy Rocha e Cláudio Marzo, confronta a fantasia do Carnaval, um momento em que os papéis se invertem, com a ressaca que começa na Quarta-Feira de Cinzas, ocasião em que as pessoas se mostram como são na realidade. 

Todos os domingos, também às 17 horas, prossegue o projeto Cinepreciosidades, com curadoria do escritor e cinéfilo Matheus Matheus, constituído da apresentação de filmes raros, entre primitivos, undergrounds ou contemporâneos, garimpados em coleções particulares, na internet e outras fontes. 

Os filmes são apresentados com projeção e som digital em tela de 75 polegadas. A sala tem 23 lugares. Os ingressos são distribuídos com 30 minutos de antecedência.

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