quinta-feira, 30 de junho de 2011

L'Âge d'Or / Las Hurdes

Neste sábado, 2 de Julho, às 17 horas, no Cineclube da Casa:



Las Hurdes, de Luis Buñuel, 1932



L'Âge d'Or, de Luis Buñuel, 1928

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os Esquecidos







Neste sábado, 25 de Junho, às 17 horas, no Cineclube da Casa


LOS OLVIDADOS, de Luis Buñuel, México, 1950




A crítica de Eulàlia 1



Os esquecidos
Algumas linhas sobre o filme
Eulàlia Jordá-Poblet, 2011

Não há dúvidas de que Buñuel realizou uma proeza rara neste filme “Os esquecidos”, realizado na década de 50, no México.
Realmente seu título, minimalista, conciso, abarca a totalidade dos personagens e os resume como aqueles que são os esquecidos da sociedade: malfeitores, abusadores de crianças, adolescentes, meninas, cães abandonados das ruas. Ninguém neste filme consegue ser “out”, todos pertencem a um conjunto que se harmoniza como em uma orquestra, cujas sonoridades se complementam em um quebra-cabeças de sonoridades tristes, trágicas, sombrias.
Em nenhum momento o gênio de Buñuel duvida das cartas marcadas observadas como que por detrás de uma porta através de um olho mágico, o olho do cineasta. Inflexível, encaminha sua mira certeira para a previsibilidade das tragédias sociais cujos elementos somados confirmam uma matemática angustiada, inexorável.
E olhem que em 1950, estes elementos ainda possuíam uma escala humana, palpável. Sessenta anos depois, tal escala se perdeu, as estatísticas tomaram seu lugar, os números de desassistidos, de “esquecidos”, de tão absurdamente altos, banalizaram-se. Hoje não há mais lugar para a pena, para a caridade, para a comiseração. Quero dizer que , na época da realização do filme, havia o velho cego, havia a mãe pobre e seus filhos, havia o “pederasta”, a criança desamparada, o rapaz ladino (Jaibo), o instituto correcional para os menores infratores, e que, bem ou mal, havia um lugar para todos bem definido, mesmo que para compor em uníssono uma desgraça.
Hoje o filme teria traços bem diferentes, não poderia ficar centrado apenas no humano, pois este foi, definitivamente, deixado de lado.
No filme “Os esquecidos”, todos sofrem, todos experimentam a bondade e a maldade, todos dão e recebem seu quinhão de dor.
Alguns personagens, no entanto, parecem ser naturalmente melhores que outros. À medida da progressão do filme, vê-se, no entanto, que pode ocorrer que eles ainda não tenham sido atingidos pelo veneno que se apresenta nestes lugares onde a luta para sobreviver é diária e extenuante, onde comer é uma proeza e lavar-se, um luxo. A ingenuidade dura pouco tempo quando têm -se que estar atento e incansavelmente optando pelo ataque ou pela defesa.
As respostas agressivas quase sempre são reativas e contraditórias (morte das galinhas pela mesma criança que a algum tempo atrás amava os animais), delicadezas surgem raramente na vida real (troca de presentes entre a menina e o mexicanozinho do interior), sonhos tentam transmutar a realidade mas acabam se transformando em pesadelos (a jovem mãe que, apenas no sonho do filho, conversa calmamente e lhe traz um enorme pedaço pedaço de carne , carne esta que logo é roubada pelo rapaz-problema-Jaibo, não chegando, por pouco, às mãos do garoto).
E é assim que ocorre tudo: por pouco. Por pouco a mãe perversa poderia se reconciliar com o filho que lhe pede, que suplica por seu amor. Por pouco ela poderia salvá-lo do instituto correcional. Por pouco ela poderia ter descoberto que era seu filho morto aquele jogado sobre o burrinho e, ao menos nesta hora, tê-lo amado e dele se despedido em um enterro digno. Por pouco Jaibo poderia ter se casado com a jovem viúva e experimentado pela primeira vez uma vida em família e o amor de verdade. Por pouco o diretor poderia ter salvado, não fosse a aparição de Jaibo, o menino de boa índole da prisão e da morte. Por pouco o mexicanozinho poderia ter tratado o velho cego como se fosse seu avô e este o amado como a quem ama um neto. Por pouco o velho cego poderia ter sido um avô para a menina que lhe traz o leite enquanto esta poderia tê-lo acarinhado ao invés de ter que odiá-lo pela conduta libidinosa em relação a ela.
E o que, para o cineasta, poderia ter eliminado este “pouco” para que seus personagens pudessem escapar da inevitabilidade de seus temíveis destinos? A resposta está já no início do filme, no “progresso” que um dia – segundo Buñuel e seu roteiro - esperançosamente virá , trazendo emprego, bens materiais e civilidade nos relacionamentos. Também vem pela boca do diretor do instituto de correção de menores, único personagem a possuir o privilégio de poder distanciar-se da situação e ter cultura suficiente para extrair dali uma crítica menos contaminada pelo preconceitos. É ele que têm a lucidez de dizer que é preciso profissionalizar os jovens, acreditar neles, na sua potencialidade, na sua responsabilidade.



A crítica de Eulàlia 2


Os animais de Buñuel
Eulàlia Jordà-Poblet, julho de 2011



Em “Os esquecidos”, os animais ora surgem para compor a cena, acentuando o drama, confirmando a miséria e o abandono ao qual os personagens estão entregues, ora assumem papéis fundamentais que podem passar despercebidos por olhares menos treinados, uma vez que as pessoas estão acostumadas a apenas “notar” os animais como “atores” coadjuvantes, e isto, na melhor das hipóteses.
As cenas exteriores, farta em mostrar cães magros, sem rumo, lembram a frase de Lygia Fagundes Telles que ao tentar explicitar o que sentia ao ver os cães abandonados nas ruas, comparou-os a “nuvens errantes”. Os cães do filme se apresentam tal qual estas nuvens, que vão para lá e para cá, sem nenhum sentido a não ser o de uma vida repleta de dor e de fome crônicas, pior ainda porque associada a uma ingenuidade própria do cão diante da violência humana.
São eles, no entanto, na primeira parte do filme, responsáveis por uma das raras cenas de bem-aventurança e paz naquele bairro pobre mexicano . A cena funciona como uma bandeira branca no cenário que vai se tornando cada vez mais noturno, denso, sombrio. Ocorre depois que o meninozinho mexicano, oriundo do “campo”, decide abandonar o choro e lutar por sua vida, comendo e socializando-se com o mundo da forma como ele se apresenta. E nesta cena belíssima ele se associa ao outro menino abandonado pela mãe, logo ele, menino abandonado pelo pai, enquanto os cães, abandonados por todos, a eles se reúnem compondo um quadro de graciosa solidariedade. Graciosa em todos os sentidos: pela gratuidade da amizade entre seus componentes e que não passa por um preço, e pela espontaneidade que as crianças e os animais têm. Embora a noite onde os meninos/cães mergulham esteja à espera, como que para tragá-los com seus perigos, o espectador têm a sensação fugidia e balsâmica de que, pelo menos aquela noite será calma e protetora para seus personagens.
Há horas que os animais assumem as cenas principais de forma ativa, comunicando-se pelo olhar e pela postura com os humanos. É a cena com a burrinha que, através da janela, comunica à menina que ocorreu algo no estábulo ,terrível : o assassinato do menino pelo rapaz Jaibo. A menina, através do olhar do animal fixo no seu, “entende” o recado. Cá entre nós, não é raro que esta comunicação ocorra entre um animal e uma criança, ao invés, por exemplo, do animal com o avô desta. Muitas vezes as crianças, por não terem incorporado ainda os pré-conceitos contra os animais injetados na sociedade adulta, os “ouvem” e percebem muito melhor. Em oposição a isso, os adultos costumam ver os animais apenas como base da sua atividade econômica. “Cuidado com os animais”, frase do avô, relaciona-se muito mais com evitar o roubo do sustento que o leite da burrinha lhes dá, do que cuidar dos animais em si, pela amizade, pela afetividade (embora, sejamos justos, o avô é um dos personagens mais responsáveis e afetivos do filme). De qualquer forma o avô cuida da menina, que nele muito confia, e sua preocupação com os animais é exemplar para ela que os cuida ( o valor do exemplo).
Aliás , também não é de se estranhar que menina alta e o menino mexicano se sintam atraídos um pelo outro, apesar da grande diferença de idade. Ambos sabem das forças da natureza, descobrem-se vagamente homem e mulher, conhecem através dos animais o afeto, trocam presentes, se protegem um ao outro.
É muito curioso que os melhores personagens, aqueles que possuem mais características de boa índole, são justamente os que interagem de forma harmônica com a natureza, fazendo parte dela ao invés de tentar dominá-la como o faz ininterruptamente Jaibo , o personagem que é mais agressivo. A cena do menino do campo, mamando diretamente o leite nas mamas da burrinha, assaltando de espanto ao outro menino e ao espectador, é simplesmente antológica. Seu significado é que não há nenhuma barreira entre ele e a natureza, apenas a simbiose, a verdade, o fim das imposturas. A cena nos diz claramente, sem que se deixe nenhuma dúvida: Somos todos animais, não há diferença essencial!
A boa índole do menino preterido da mãe – reconhecida por esta particularidade, mais adiante, pelo diretor do instituto de correção de meninos infratores – é confirmada explicitamente por sua frase desesperada dirigida à mãe: “Não bata nos animais!”. E nesta hora o espancamento das galinhas é mostrado durante alguns segundos. Não fosse cena importante, preciosa para o entendimento da trama, Buñuel não a teria escolhido. Buñuel sabia o que fazia, era muito específico. A crueldade para com os animais, desejava o cineasta dizer e demonstrar, está ligada de forma íntima a ambientes propícios à violência humana. E nela funciona um ‘jogo de passar o bastão’ em que os menos favorecidos, aqueles que menos se podem defender (crianças, deficientes, velhos, animais, mulheres), são os receptores finais da violência em seu estado máximo. E é bom lembrar que é este mesmo menino que mais adiante matará cruelmente as galinhas do instituto correcional, de forma reativa e impensada, como em uma canalização incorreta de sua raiva por tantas injustiças que lhe são cometidas. É assim que o justo torna-se injusto.

domingo, 19 de junho de 2011

Relação de filmes exibidos no primeiro trimestre de 2011 pelo Cineclube da Casa

29/01 - Teorema, de Pier Paolo Pasolini
05/02 - Simão do Deserto, de Luis Buñuel
12/02 - O Outro Lado, de Akim Fatah
19/02 - A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski
26/02 - Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsh (imagem abaixo)
08/03 - O Homem do Corpo Fechado
12/03 - Limite, de Mário Peixoto
19/03 - A Ilusão Viaja de Trem, de Luis Buñuel
26/03 - Bethânia Bem de Perto, de Júlio Bressane
02/04 - Viridiana, de Luis Buñuel (imagem acima)
09/04 - Alemanha Ano Zero, de Roberto Rosselini
16/04 - Programa Ensaio com Elis Regina, de Fernando Faro
23/04 - A Via Láctea, de Luis Buñuel
30/04 - Os Incompreendidos, de François Truffaut






terça-feira, 14 de junho de 2011

A Estrada da Vida



"A ESTRADA DA VIDA" - O FILME QUE PROJETOU FEDERICO FELLINI E SUA MULHER, GIULIETA MASINA COMO GELSOMINA, UM DOS MAIORES PERSONAGENS CRIADOS PELO CINEMA


"Nenhum homem é uma ilha", escreveu há 500 anos o poeta John Donne. Fazemos parte de um conjunto. Daí a necessidade de comunicação ser o ideal mais essencial aos seres humanos. E o amor é a maior forma de comunicação humana, nos diz Fellini em "A Estrada da Vida" (La Strada), filme que o diretor italiano realizou em 1954.


No filme, um artista ambulante viaja pela Itália exibindo seus músculos, acompanhado de uma companheira-escrava comprada à família miserável. À primeira vista, um filme social, como eram os filmes italianos vinculados ao movimento cinematográfico do neo-realismo. Mas os miseráveis de Fellini, como depois o operário de Antonioni em "O Grito", têm problemas existenciais. A deambulação, presente nos filmes do diretor, é apenas uma forma de dizer que os seres humanos caminham pela vida sempre à procura do outro, na esperança de uma comunicação, na busca do amor, passando por desencontros e desenganos, perdidos na estrada da vida.


O humanismo de Fellini é temperado pela influência do vagabundo de Chaplin e pelo cristianismo de Rosselini, de quem Fellini foi colaborador. Segundo o poeta e crítico de cinema José Lino Grunewald, "para Fellini, o caminho da esperança talvez seja apenas um: o fim da civilização cristã, cujos valores positivos, desatualizados, ficaram inatingíveis para o homem ou se transformaram em alienação".


"La Strada será apresentado neste sábado, dia 18, às 17 horas, pelo Cineclube da Casa. Projeção em telão, DVD.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Menino de Engenho



EM 1966, EM BELO HORIZONTE, "MENINO DE ENGENHO" LEVOU 18 ANOS DE CENSURA POR CAUSA DE DUAS CENAS: A DO BEIJO ENTRE CRIANÇAS E A DO AMOR COM A BANANEIRA


Baseado no romance de José Lins do Rego, "Menino de Engenho" é o primeiro filme de Walter Lima Júnior, segundo Caetano Veloso, "o mais antiglauberiano dos cineastas do Cinema Novo". De fato, recém saído das filmagens de "Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, de quem foi assistente de direção e co-roteirista, Lima Júnior fez um filme que destoa do movimento. Sem convocações à revolução, é uma reflexão poética sobre um mundo em desaparecimento (o dos engenhos de cana de açúcar) que resiste à transformação do velho no novo, na perspectiva de um menino. Reconhecidas pelo diretor, ex-cineclubista, suas influências são de John Ford e Humberto Mauro.


Na época, foi o segundo sucesso de bilheteria do Cinema Novo, depois de "Os Cafajestes", de Ruy Guerra. Fez mais de 2 milhões de espectadores.


O filme será apresentado neste sábado, dia 11, às 17 horas, pelo Cineclube da Casa.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Abismos de Pasion



"ABISMOS DE PASION", UM DOS FILMES MAIS DESCONHECIDOS E MAIS IMPORTANTES DE LUIS BUÑUEL


"O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Bronte, foi um dos livros mais admirados pelos surrealistas franceses.


Luis Buñuel chegou a trabalhar num roteiro, nos anos 30, logo que terminou "L'Âge d'Or". Mas foi Willian Wyler, nos anos 40, que filmou o livro, tendo Lawrence Olivier e Merie Oberon como protagonistas.


Em seu exílio no México, nos anos 50, Buñuel fez a sua versão, aproveitando partes do roteiro anterior. Foi um trabalho de encomenda, que não agradava ao grande autor. O surrealista Ado Kyrou escreve que "Abismos de Pasión" é um dos filmes mais desconhecidos e mais importantes de Buñuel. À primeira vista, parece um melodrama clássico do cinema mexicano. O tema é o amor delirante. Para Kyrou, a última sequência, passada no túmulo, é sublime. "Em 15 minutos, estão o que o espírito humano nos deu de mais fulgurante." O clima desesperador é enfatizado por trechos de "Tristão e Isolda", de Wagner.


Em dado momento, um velho lê um trecho da Bíblia, para Buñuel a mais bela cena, superior ao "Cântico dos Cânticos". "O tempo da nossa vida é curto e cheio de tédio, e não há nenhum bem a esperar depois da morte, e também não se conhece ninguém que tenha voltado dos infernos". Está em seu livro de memórias, "Meu Último Suspiro".


No Brasil, o filme foi distribuido sob o título de "Escravos do Rancor".


"Abismos de Pasión" será apresentado neste sábado, dia 04, às 17 horas, pelo Cineclube da Casa de Cultura Cássia Afonso de Almeida. Compareça!